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Cavalos de Raça: O Novo Negócio dos Empresários do Maranhão

No recente artigo publicado pelo Estadão, Julia Affonso e Vinícius Valfré exploraram um tema intrigante e de grande relevância: o inesperado surgimento do Maranhão como um centro vibrante no mercado de cavalos de raça. Esse fenômeno, envolvendo políticos e empreiteiras, revela uma intricada rede de interesses e transações financeiras que transformaram o estado, considerado um dos mais pobres do país, em um polo de investimentos nesse setor específico.

O site ponto e virgula noticias, por sua vez, mergulhou nesse assunto complexo para trazer aos seus leitores um detalhado levantamento sobre como essa transformação ocorreu. Desde os bastidores das negociações até os laços entre os empresários, políticos e os haras envolvidos, o ponto virgulanoticias busca lançar luz sobre esse tema que transcende as fronteiras estaduais e apresenta reflexos significativos no panorama político e econômico do Brasil.

Nos últimos quatro anos, há um movimento significativo no estado do Maranhão, onde empresários locais começaram a explorar um novo mercado: a negociação de cavalos de raça. Este mercado despertou o interesse não apenas de investidores, mas também de lideranças políticas do Congresso. Neste período, observa-se um notável crescimento nesse setor, transformando o estado, que historicamente apresenta o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, em um dos principais polos de investimentos do país.

Empresas do Maranhão, que já detêm contratos milionários com o poder público, passaram a investir nesse novo nicho de mercado, encontrando sucesso imediato. O impulso para esse crescimento é dado por haras, tanto de políticos quanto de empresários investigados, que se destacam pelo alto volume e valor dos animais negociados. Figuras importantes, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e o deputado federal Marreca Filho, estão envolvidas nesses negócios. No entanto, apesar das tentativas de contato, esses políticos optaram por não se manifestar sobre o assunto.

Este boom no mercado de cavalos do Maranhão é destacado por consultores especializados em leilões de animais. Eles enfatizam a crescente importância do estado nesse cenário, afirmando que nos últimos anos o Maranhão se tornou o líder nacional em compra de cavalos de raça. Esse destaque evidencia a ascensão rápida e significativa do estado nesse mercado em particular, indicando um aumento substancial no volume de compras e investimentos.

Durante um mês, o jornal Estadão realizou uma investigação abrangente, reunindo uma variedade de dados e informações para entender melhor o fenômeno do mercado de cavalos de raça no Maranhão. Essa pesquisa incluiu análise de dados de execução orçamentária do governo federal e estadual, levantamento de históricos empresariais, mapeamento dos cavalos negociados em leilões e análise de extratos bancários e ações judiciais.

Nesse contexto, o Haras São Pedro emerge como um dos principais protagonistas no cenário dos cavalos Quarto de Milha no estado. Fundado em 2019 e oficialmente registrado na Receita Federal em agosto de 2021, este criadouro é liderado pelos filhos do empresário Ricardo Del Castilho, originário de Imperatriz.

Ricardo Del Castilho, conhecido no setor como o responsável pela estruturação do haras, é proprietário das empreiteiras Terramata e RDC Construtora e Empreendimentos. Ao longo dos anos, o governo do Maranhão desembolsou mais de R$ 847 milhões em contratos com as empresas de Del Castilho, que também mantêm vínculos contratuais com prefeituras locais.

No entanto, um desses contratos resultou em complicações legais para o empresário. Em 2019, ele foi acusado pelo Ministério Público do Maranhão de fraude à licitação, lavagem de dinheiro e promoção de organização criminosa. A denúncia alega que a Terramata, uma das empresas de Del Castilho, superfaturou uma obra de pavimentação contratada pela prefeitura de Açailândia, enriquecendo ilicitamente no processo.

Além de suas atividades no setor de construção, as empresas de Del Castilho têm ligações diretas com a criação de cavalos. Segundo informações do Departamento Estadual de Trânsito do Maranhão (Detran-MA), a RDC é proprietária do caminhão utilizado para transportar os animais do Haras São Pedro pelo Brasil. Adicionalmente, em outubro, a Terramata forneceu um caminhão-pipa e um trator para uma vaquejada organizada pela família.

Nesta etapa da investigação, o foco se volta para a relação entre políticos e os haras ligados às empreiteiras da família Del Castilho, que têm contratos com o poder público há cerca de uma década. Até 2019, essas empresas tinham uma atuação predominantemente regional, mas a partir desse ano, a Engefort, controlada por Antônio Carlos Del Castilho – irmão de Ricardo Del Castilho – expandiu sua presença nacional, vencendo licitações em série no governo de Jair Bolsonaro.

Ricardo Del Castilho afirma que a ideia de investir em cavalos partiu de seus filhos e que o haras que ele comanda não possui relação com suas outras empresas, nem com a Engefort, controlada por seu irmão. Por outro lado, a Engefort afirma que seus contratos com o governo foram conquistados por meio de licitação.

O jornal Estadão obteve extratos bancários que sugerem uma cooperação financeira entre a Engefort e a Terramata, outra empresa da família Del Castilho. Esses documentos indicam que, entre janeiro de 2017 e outubro de 2019, as empresas realizaram 155 transações financeiras, incluindo transferências para Antônio Carlos Del Castilho, totalizando R$ 24,2 milhões.

Em nível nacional, a Engefort obteve contratos para asfaltar ruas em diversos estados, incluindo Maranhão, Amapá, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Sergipe. Desde 2019, o governo federal destinou mais de R$ 622 milhões do orçamento público para pagamento à empreiteira. No entanto, a Engefort está enfrentando uma ação de ressarcimento ao erário movida pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Esta parte da investigação detalha um processo judicial envolvendo a Engefort e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), uma estatal federal. Em junho do ano passado, a Codevasf entrou com uma ação na Justiça Federal do Maranhão, alegando um prejuízo de R$ 3,3 milhões em três contratos de asfaltamento firmados com a Engefort em 2019, para obras em Vitorino Freire e Lago da Pedra, no estado do Maranhão.

Uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU) constatou que a Engefort executou as obras de maneira negligente e sem seguir os padrões técnicos adequados. O relatório da CGU foi anexado ao processo pela Codevasf, que solicitou o ressarcimento do valor, argumentando que houve má utilização de dinheiro público e violação de princípios constitucionais, administrativos e civis.

No entanto, a Engefort defendeu-se, afirmando que as obras foram realizadas de acordo com os parâmetros estabelecidos no processo de licitação. A empreiteira também alegou que a Codevasf desempenhou um papel fundamental na fiscalização e autorização dos serviços executados. Portanto, qualquer falha na fiscalização ou comunicação de não conformidades não poderia ser atribuída à empresa, pois a responsabilidade pela adequação dos serviços prestados cabia à fiscalização da estatal.

Nesta parte da investigação, é exposto o envolvimento de políticos e autoridades em transações relacionadas a cavalos de raça. Juscelino Filho, ministro na época dos eventos descritos, tem uma relação próxima com os proprietários do Haras São Pedro. Em 2022, os donos do criadouro adquiriram um cavalo do haras mantido por Juscelino em Vitorino Freire por R$ 200 mil.

O ministro omitiu um patrimônio de ao menos R$ 2,2 milhões em cavalos Quarto de Milha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O haras onde Juscelino mantém os animais estava registrado em nome de sua irmã, a prefeita de Vitorino Freire, Luanna Rezende. Após a revelação, a empresa foi baixada da Receita Federal.

Em setembro do ano anterior, o ministro participou de um leilão da família Del Castilho, enviando saudações aos organizadores. Na ocasião, o Haras São Pedro arrecadou R$ 4,9 milhões com a venda de animais de raça.

Além disso, o deputado Marreca Filho também estava entre os compradores do leilão do Haras São Pedro. Embora não tenha declarado possuir cavalos em seu patrimônio registrado no TSE em 2022, ele é conhecido por participar regularmente de leilões de animais de raça.

A investigação continua com a descrição de outro haras, o Haras São Luís, que teve um rápido crescimento em suas operações. Iniciado sob o comando de Ruan Lima, ex-piloto de carro de rally, o criadouro foi registrado oficialmente em agosto do ano anterior, embora já estivesse operando anteriormente. A empresa foi transformada de uma especializada em “casa de chá” e “estacionamento” para “criação de equinos”.

O Haras São Luís tem seu e-mail de contato registrado na Receita Federal vinculado ao setor de contabilidade da Med-Surgery Hospitalar, uma empresa de fornecimento de material médico e nutrição controlada pelo pai de Ruan Lima. Nos últimos anos, o governo do Maranhão pagou significativas quantias à empresa de saúde.

E revelado que o empresário Alexsandre Lima, pai de Ruan Lima, está envolvido em um processo movido pelo Ministério Público do Maranhão. A acusação é de que a empresa Med-Surgery, da qual Alexsandre é proprietário, teria se beneficiado de uma licitação fraudada na Prefeitura de Paço do Lumiar (MA). Embora uma ação por improbidade contra ele e outros investigados pelos mesmos motivos tenha sido julgada improcedente pela Justiça, a Med-Surgery optou por não se manifestar quando procurada pela equipe de investigação.

Ruan Lima está se preparando para sua candidatura à prefeitura de Moraújo, no Ceará, pelo PSD. Em pré-campanha, ele anunciou que o deputado federal Domingos Neto (PSD-CE) destinou recursos para a saúde do município.

O empresário Ruan Lima, dono do Haras São Luís, mantém relações próximas com Juscelino Filho e Arthur Lira. Em 2022, ele e o ministro organizaram o 1º Leilão de Quarto de Milha do Maranhão. Na ocasião, Ruan gastou R$ 200 mil para adquirir 33% de um dos animais do ministro.

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, também comprou um cavalo do haras de Ruan Lima por R$ 126 mil em um leilão realizado em setembro do ano anterior. O consultor Rodrigo Loureiro anunciou a compra de Lira durante o evento, mencionando a proximidade entre eles e a família de Ruan Lima.

Através de suas redes sociais, demonstra sua proximidade e amizade com Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. Em agosto do ano anterior, ele agradeceu ao deputado pelos conselhos e o citou como um exemplo. Em novembro, postou uma foto de um passeio com Lira, o senador Weverton Rocha e o prefeito de Coreaú (CE), Edezio Sitonio, referindo-se a eles como amigos do peito.

Arthur Lira, além de ser presidente da Câmara, também é criador de bois e cavalos em um haras em Pilar, interior de Alagoas. Embora não tenha mencionado possuir cavalos ou bois em sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2022, o Estadão revelou que ele comprou um cavalo do cantor Wesley Safadão por R$ 200 mil e esteve envolvido com empresas de apostas na compra de material genético de outro animal. A reprodução de cavalos raros é uma atividade lucrativa para os criadores.

A indústria do cavalo movimenta cerca de R$ 30 bilhões por ano no Brasil, principalmente através do mercado que envolve os animais da raça Quarto de Milha. As transações de compra e venda desses cavalos geralmente ocorrem em leilões privados ou em negociações particulares, sem a necessidade de registros públicos.

A criação de cavalos Quarto de Milha e as competições de vaquejada despertaram o interesse de casas de apostas no ano anterior, coincidindo com o momento em que o setor das apostas online estava sob investigação em uma CPI na Câmara. Empresários de renomados sites de apostas do país fizeram uma oferta pública recorde de R$ 15 milhões por um único cavalo, o Dom Roxão, que era considerado um dos mais lendários garanhões da raça. No entanto, a oferta foi recusada pelo proprietário do animal, que acabou falecendo em janeiro após um acidente.

Ricardo Del Castilho, em entrevista à reportagem, afirmou que a ideia de investir em cavalos surgiu de seus filhos, que são os idealizadores do parque. Ele menciona que o haras já existe há cerca de 8 ou 7 anos e que seus filhos sempre tiveram interesse e cuidaram dos animais desde pequenos.

Del Castilho enfatiza que o haras é uma empresa completamente separada da Terramata, destacando que o caminhão está em nome da RDC porque foi adquirido em consórcio. Ele também destaca que o Maranhão se tornou um polo de investimento em cavalos Quarto de Milha devido às vaquejadas na região.

Sobre o processo movido contra ele, Del Castilho menciona que foi encerrado recentemente. Ele também esclarece que não tem parceria com a Engefort, empresa de seu irmão, Antônio Carlos Del Castilho, ressaltando que um de seus filhos foi sócio da empresa entre 2014 e 2018.

A Engefort Construtora, por sua vez, responde que os processos licitatórios em que participou e venceu foram realizados de forma regular, destacando seu compromisso com a honestidade e o cumprimento das leis, além de suas certificações em normas de qualidade.

Essa parte da investigação traz as declarações de Ricardo Del Castilho sobre a separação entre suas empresas e as respostas da Engefort Construtora em relação aos processos licitatórios.